segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

"Eu, Daniel Blake" (Crítica)

O que há de errado com Eu, Daniel Blake? Uma das respostas pode estar na pergunta: "Para quê serve um filme?" Retratar a realidade ou transcendê-la? Se você prefere a primeira opção talvez tenha gostado do filme. A meu ver, a limitação dele está justamente em retratar a realidade mas não superá-la, em apontar a patologia social (a burocracia) e não mostrar alternativas ou soluções. Há uma incompletude, neste sentido.

O personagem, em alguns momentos, tenta burlar e transcender a patologia mas sem êxito. O filme direciona sua crítica para o sistema social burocrático. Isso fica evidente pela forma "zumbificada" dos personagens burocráticos retratados.

Há decerto, ao menos, duas situações que merecem destaque:

1) quando Blake se levanta no departamento do governo para reclamar do descaso em relação à mãe solteira, Katie;

2) quando Daniel, já saturado do empurra-empurra burocrático, parte para um protesto gráfico

Porém, ambas as tentativas de superar a patologia não têm êxito e a mensagem final é pessimista: "o sistema é esse mesmo, não adianta lutar contra ele que tudo continuará igual". Faltou: ressaltar a condição do inconformismo social sadio, o pensar out-of-box; sair da crítica social e entrar na autocrítica. É sempre relevante pensar: "O quê uma consciência mais lúcida faria nesta condição?".

Faz pensar que alguns autores são bons para contar uma estória, mas não tem habilidade (vontade?) para solucioná-la. Ou seria falta de mais ousadia para sair do conformismo? A impressão é que o filme bate asas mas não voa.

Podemos fazer a pergunta: um filme deve apenas conformar-se com o real ou transcendê-lo? Se a intenção é levantar um problema, trazer uma situação para o debate já terá sido válido. Mas, particularmente, gosto de sair do cinema com aquele sentimento positivo de ascenção onde um problema, uma situação insatisfatória foi desvelada e depois superada.


quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

A irracionalidade do materialismo

Do ponto de vista existencial, a tese do materialismo e, portanto, da finitude da consciência é irracional. A questão é que, neste caso, teríamos que assumir que determinadas pessoas foram "eleitas", desde o nascimento, a terem uma vida melhor do que outras.

Eis alguns exemplos:

1) Uma pessoa nasce numa família estruturada que lhe dá condições da melhor formação educacional, cultural e social. Já um outro indivíduo nasce num ambiente mais inóspito, em condições desfavoráveis.

2) Um indivíduo nasce gênio superdotado, com inteligência acima da média; um outro tem retardo mental, com extrema dificuldade de raciocínio e elaboração de pensamento.

3) Um sujeito, ao final da vida está feliz e sereno, com a sensação de dever cumprido e tem um desfecho tranquilo, durante o sono, em atmosfera de paz. Já outra pessoa sofre acidente e falece de modo trágico, deixando um rastro de incomprensões e incompletudes para trás.

Conclusão: podemos enumerar inúmeros exemplos que mostram a deficiência do materialismo (da ideia de que a existência da personalidade termina junto com o corpo biológico) na explicação da vida humana.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Jung e o inconsciente

Lendo Jung é possível perceber o nível do alcance superior de suas ideias se comparado a outros psicólogos históricos. Mas ainda tem aquele hábito de usar a ideia de inconsciente para explicar os fenômenos parapsíquicos.

sábado, 24 de setembro de 2016

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Maturidade dos eleitores

O cidadão-eleitor que vota num candidato em troca de favores, cargos ou dinheiro, não tem nenhuma moral para reclamar sobre a corrupção, pois já é participante desta desde o começo.

A qualificação do(a) eleitor(a) requer uma dessensibilização em relação aos discursos políticos emociogênicos e maior sensibilização para os discursos racionais e realistas.


domingo, 28 de agosto de 2016

"Quando as Luzes se Apagam". Crítica.

Assisti ao filme Quando as Luzes se Apagam ("Lights Out"). Costumo fazer concessão aos filmes com temática sobrenatural, pois entendo que é um gênero difícil. Achei que esse estava indo bem mas derrapou completamente no final. A derrapada está em não assumir a existência das consciexes (espíritos) e deixar margem para a ambiguidade.

Ao final, a atitude tomada pela mãe de Rebecca para por fim também a Diana, a meu ver, foi uma péssima solução do roteirista. Isso porque perdeu-se ali uma grande oportunidade de se criar um turning point, uma solução dramática muito mais profunda da situação.

Ao meu ver, a opção pela "morte" de um personagem, muitas vezes, é uma solução fácil que apela para um impacto emocional superficial. É uma simplificação, quando ou não se sabe o que fazer ou não se quer arcar com uma saída mais digna. Por exemplo, poderiam ter abordado a reciclagem de Diana e da mãe de Rebecca. Mas, talvez, fosse esperar muito do roteiro. O problema é que filmes com desfechos elevados acabam se tornando um referencial e há um aumento do nível de exigência dos cinéfilos. Lembram do final de O Sexto Sentido?

Por quê, em muitos filmes atuais, parece haver uma fuga de desfechos maduros? O problema parece ser que a maturidade e a moralidade deixaram de ser um valor para o cinema atual.

Além disso, a "solução" encontrada no roteiro parece deixar uma situação propositalmente ambígua: "afinal, Diana tem existência própria ou apenas é um produto da mente?".

Ao final, conclui-se que, ao modo de tantos outros filmes do gênero, Lights Out tem mais a intenção de assustar do que explicar.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Documentário.

Há alguns dias assisti o documentário Chico: Artista Brasileiro, do cineasta Miguel Faria Jr. Ele também fez o documentário sobre Vinícius de Moraes. Gostei muito da forma que conduz o roteiro, colhendo depoimentos e reflexões do compositor. Mesmo que você não seja um fã ou mesmo ouvinte das músicas de Chico é possível se interessar pela história de sua personalidade multifacetada. Ali, podemos ver a influência que Chico recebeu do pai historiador e sociólogo, seu ingresso no mundo da Literatura, o poliglotismo.

O fato do próprio Chico falar de si e das situações vividas, traz um tom autorreflexivo interessante, uma vez em que se encontra num momento de vida onde há um alargamento da memória, possibilitando ver os fatos com olhar diferenciado em relação a mente juvenil. Aliás, a memória e o resgate do passado são fios condutores da narrativa. O filme se inicia com um pensamento sobre memória e imaginação, onde uma coisa se confunde com a outra. Noutro momento, traz a história de um irmão alemão desconhecido que será retomada. Tal situação é contada ao modo de um puzzle, a partir de pistas que surgem e vão conduzindo ao desvelamento final.

Depois, sai-se com a vontade de assistir a outros documentários nesse estilo. Procurei por Tom Jobim, mas o que existe A Música Segundo Tom Jobim parece ter o foco exclusivamente na música.

Filmes sem conclusão

Outro dia assisti a um filme daqueles que "acabam mas não terminam". Ou seja, a estória chega ao final e não há um desfecho, uma c...