Todos sabemos que não devemos ter preconceitos. Porém, na prática, a situação às vezes é outra. Quando trabalhei na Penitenciária de Foz do Iguaçu uma das atribuições do(a) psicólogo(a) era entrevistar os detentos recém-chegados. Dentre as perguntas havia um questionário-padrão com a finalidade de compreender alguns traços da personalidade do ingressante no sistema penitenciário. Uma destas perguntas era: "O que você faz nas horas vagas?" (Essa pergunta pode parecer estranha mas lá eles têm atividades: aulas, oficinas, visitas, exercícios). Alguns presos, mais familiarizados com as "manhas" do sistema, costumam responder o que o entrevistado "quer" ouvir. Já sabem qual a resposta "correta" ou "errada" para o entrevistador. Então, diante da pergunta "O que você faz nas horas vagas?" muitos respondiam que gostavam de ler. Sem dúvida, existem detentos estudiosos mas alguns pareciam responder de forma mecânica e se convicção. A pergunta seguinte ("O quê você gosta de ler?") costumava trazer mais pistas sobre o grau de veracidade da resposta anterior. Quando a resposta era vaga do tipo "romance" já desconfiava que o interlocutor estava usando a "resposta-padrão". Numa certa ocasião, depois de algumas entrevistas, cometi o erro de antecipar a resposta:
- "E você gosta de ler o quê? Romance?".
- "Não, atualmente estou lendo Tom Jones e também sobre a ascenção e queda da família Médici. Você sabe que os Médici financiavam vários artistas..."
- "E você gosta de ler o quê? Romance?".
- "Não, atualmente estou lendo Tom Jones e também sobre a ascenção e queda da família Médici. Você sabe que os Médici financiavam vários artistas..."
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